sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Texto à vista: BardoAmar, o teste da poesia




O primeiro livro que escrevi, na verdade, não representava os primeiros poemas que eu já havia feito devagarinho na minha carreira de poeta. Mas foi, sim, o meu primeiro trabalho para compor um livro, uma obra inteirinha. Trabalhei um pouquinho (todo o ano de 1999), lido que apenas (a lápis, a caneta e a tecla) produzi cerca de oitenta poemas, a maioria com aparência de haicai japonês, tão ao gosto de um Guilherme de Almeida (sério!), quanto ao de um Paulo Leminski (brincando?). BardoAmar foi, portanto, o meu deixa-comigo-que-eu-quero-é-isso.
Creio que ter sido classificado, com esse primeiro trabalho, em segundo lugar no Prêmio Torquato Neto de Poesia, da Fundação Cultural do Piauí (FUNDAC), em 2000, já foi um excelente resultado: fui só entusiasmo pra prosseguir pelas páginas adentro. Só não fui tão longe: nas duas edições que essa obra teve (em 2003 e 2005), foram publicados apenas dois mil livros. Pouco combustível pra quem quer ir bem lonjão. Mesmo assim, saí do lugar; contudo, caí num lugar-comum: dei o primeiro passo. Não estou mais possibilidade, sou poeta.
Por isso, essa vontade de me-expor mais do que nas bancas, foi o que me-trouxe até estes sítios. Vim porque me-fiz assim: quero colaborar com a escrita terrena doando estes textos que tenho às mãos (quem diria que iríamos escrever digitando prum mundão de gente sem tamanho?). Pois bem: como não sei quando um dia irei publicar uma terceira edição de BardoAmar, gostaria de me-aproveitar dessa editora-à-tela-aberta, que é a infernet, para publicar quase um quarto de poemas desse livro. Quer estar nesse catre comigo? Então, deite-se num poema do livro:

cama suma

em camadas & ângulos
me-configuro-te livro
em clímax se climas


            Esse formato que apresento aqui, entanto, tem somente uma “antologia” aqual eu sozinho construí. As escolhas são minhas; portanto, não há outra intenção do que a de postar os textos mais representativos de cada parte do livro para recuperar o todo que o conjunto dos poemas significa. Os temas mais recorrentes da obra são o amor, o desamor e o novamor, na versão casal-casa-cama. Isso é pra ficar claro pela luz que a divisão em três partes lança no significado dos poemas. Assim, por conta da relação de sentido coa expressão, a poesia de BardoAmar é lírico-erótica, excitada por um desejo de trabalhar o ludismo da linguagem, sobretudo.
            Não menos que isso; sim, mais que isto: quero “contribuir com uns versos” pra pagar o que devo por ter lido tão bons poetas pelas páginas de minha vida de leitor de poesia. Certamente, ficarei devendo um tanto grande de poemas. Mas continuo trabalhando. Por enquanto, então, quero servir a todos estas copas do meu vinho-poesia. Já adverti: beber poesia faz bem! Tim-tim!
           


PARTE I: a-MOR vinha vinho


BardoAmar

velhos personagens
vinha esse verbo velho
tinto em cenas líquidas

brinde pois conosco
onde imóveis sentimos
corpemente ação excetiva

sãos sentidos que nos-marem
em música vinho poemas
delícias a tormentas

por risco também
nestas linhas fie tais sentidos:
aqui dentro eus nós

velozesamarras
velas a mar a velarem-se
no que o verso encerra



faróis

de meu olhar brilho
se luzes preciso rumo
porto... postoAmar



poesia na morada do aluno de...

  aMOR
HUMmm...
a  MOR  ação!



oráculo principal

bem dentro de ti campo
este canto de trigo enigma:
cativa-me-devora!



olha a gatinha!

te-vejo clic!
sorrindo passarinhos
em felicimagem

se cores em quadros
te-frequento
FIlMe



cerebral paisagem aérea

em este amor este
branquilidade de nuvem
contra o azul oeste



I... de IN

Senhora: Vós  -
voz aqui dentro
hoje em tu (vês?) -

entre entes
sóis sois
em mim



PARTE II: a mar frágil nau


voz nua à Lua nativa

contra-assopram em mim
lembranças de ti
a selvar-me salvagem

como tupis amórfagos
ritos in vocação nova:
catiti! catiti!



estiagem no poema

o Sol traga
a vinha vida do poeta
que espera

versiflorem
sulcos as brancaragens
nestas páginas da Terra



amor descortês

ai! quem senão tu
já não me-quer escutar
que assim se-convém



chavões de ouro

é... toda dor quer ser a mais doída
e todo amor quer ser o mais querido 
hipérBOLESantíTESESouVIDAS



me-salvo-te

arquivo os dígitos desse
dito a-mor num outro arquivo
fora de mi      cro: vírus
                    m



pela linguagem da gravura escorre o verbo

ana... co luto do fim comunico
isto (com um comum rumor único):
amorragia... não há escapar imune!




PARTE III: mas novo vinha mais


de esparso a espaço

graças à perspectiva
num horizonte em linha
tocamos a estrela que vigia



milhares vezes mulher

tu... uma mulher
& todas: entes em ti
bem a mim: hipérbole!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!



vinolência

tomo-te em meus braços
a boca vinosa: sangue
bem tinto a vidar-me

já tu me-tomaste
de branca surpresa - tanto! -
que te-encontras tonta



a dois

um sexo
bem champanhe
ao outro: baile de gala

a Baco & Ariadne
esse vinho em vida
brinde branco brinde



engenho eu... tu artes

canto doce amor
concerto celeste corpo
onde nova mente



estes versos são o canto são deste dia

a ti desbranco páginas tinto
enquanto velho um novo poema
tanto que sentido o sensível a estas telas

rituando traços humano-te tais vinhos
ao odor do tato de tuas taças... corpo
onde bebo verbo canto verso

nunca nosso sentido completo
apelo: poesia-me-a-cada-dia-o-quanto-linha-somos
por-que-te-fie-os-próximos-riscos



cantoAcântico

beijo-te-vinho
tão delícia quanto
a música poesia

leva-me tu corrente
gozalegria: humamamentecorpo
em mundano nu divino

minha mais que vide: vinhas
púrpura a mim... formosa
sol resplandecente sentido

sobre os campos por onde ando
se pelas telas teclo vulva sulco pelos seios
apascentando o terreno sexo

enquanto em cantos
amor fio... verso descompleto caminho
rumo ao IN: local universal

e brindemos pois quais taças manhecentes
e façamos amar transbordando a vida intensos
a saber os sabores sensíveis



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