quinta-feira, 16 de julho de 2020

VAMOS AFOGAR O PATO!

-- Quem, o Babasquara?!
-- Esse mesmo! Fez um acordo com o Doutor: ele ficava tomando conta do sítio e botando comida pros patos, e o Doutor trazia os mantimentos de quinze em quinze dias...
-- Olha, Babasquara, são muitos patos, toma cuidado!
-- Pode deixar.
Pato pra carai pra cuidar, e duas semanas, e nada do Doutor trazer a comida... Quase um mês depois, ele aparece com a cara mais limpa.
-- Babasquara, mas que foi que houve? Tá faltando muito pato!
-- É, Doutor. Uma porção deles morreu afogado na água...
-- Como é que é, Basbaquara?! Morreram afogados na água?! Como assim?
-- Pois é, Doutor, o senhor não trouxe a comida; os patos morreram afogado na água quente...

sexta-feira, 22 de maio de 2020

PARCEIROS, PARCEIRAS E PARCERIAS AO PÚBLICO PRIVADOS


    Se, em tristes Brasílias, há o Gabinete do Ódio, com seus "Homens" impudicamente inescrupulosos, capazes de cometer a maior das sacanagens com qualquer adversário que ouse encarar uma Familícia; não nos-esqueçamos de que lá há também os Escritórios do Amor, com seu staff de garotas e garotos programados para "amar" senadores e deputados, duplos, os sexos -- às vezes, no caso das garotas, até casar, afinal há de rolar uma "dama de primeira" para estar Primeira Dama -- claro, com os garotões, "no First Lady"... Entocados, os intocáveis...
    Com o dinheiro que certo dePUTAdo bozolóide já havia avisado que era "para comer gente", se-arma uma festa rapidamente. É na carreira, "na tubada", ou melhor, nas carreiras... Tudo do bom e do melhor, coisas de primeira. Nossos esquemas são fortes...
          -- Deputado, deixe le-apresentar aquela garota fantástica!
    -- Puta vida! Caralho! Chama aí, vai!
    -- Essa dá uma primeira dama e tanto, hem, deputado? Empurra-ela naquele seu sobrinho, candidato a prefeito, hem? Se ele ganhar, até casa! Ele é baitola mesmo, a gente dá um trato nela depois... Hem?
    -- Primeiro, traz a primeira dama aqui, que eu estou com umas segundas e tantas inteções. Depois a gente vê isso de eleição... Tô querendo outras sacanagens...

domingo, 26 de abril de 2020

UM CAMINHÃO DE RAPARIGA NÃO É O CAMINHÃO DAS RAPARIGAS




Hoje, em Teresina, no Centro-Sul, foi dia de rebuliço. Foi interditado um famoso bar, conhecidíssimo entre os homens da vida (11 entre 10 deles o conhecem ou já o frequentaram!): o 70 Drinks, que, claro, vem depois do 69 (Meia Nove, pros chegados!)...
Segundo algumas testemunhas, as viaturas chegaram depois das 5h (porque de 4 já havia muita gente!), quando o "cabaré tava pegando fogo" e foi aquele "banho de água fria" em todos os desejos, que amoleceram logo. Cumprindo a determinação do prefeito de "isolamento social", que determina que todos os estabelecimentos comerciais devem fechar depois das 17h, os policiais iniciaram a operação. Como houve resistência por parte das trabalhadoras e como eram muitas, foi chamado um caminhão para conduzi-las até o DP.
Foi nesse momento que alguém, do meio da multidão, lembrou o antigo corso que havia em Teresina décadas atrás, e gritou: "Olha, um caminhão de rapariga"! É certo que o caminhão da nossa tradição carnavalesca, "O caminhão DAS raparigas", transitava por vários bairros da capital, no sábado anterior ao carnaval com o intuito de alegrar os "clientes" e a cidade. Não havia, portanto, muita semelhança com esse "caminhão DE rapariga", que só trouxe tristeza...
Porém, uma coisa é certa: tão logo sejam ouvidas, as raparigas todas serão liberadas...
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P. S.: Esse texto é ficção; exceto pela foto e pelo fato que realmente houve, mas não sei em que proporções se deu seu desenrolar (Sem trocadilho!).

quinta-feira, 2 de abril de 2020

INSTRUMENTISTA DE POESIA: POESISTA


Foto: maestrorochasousa.blogspot.com/



Conheci o maestro Luiz Santos na saudosa Escola Técnica Federal do Piauí (ETFPI), em 1983, quando, com mais dois colegas de sala de aula, o Aroldo e o Neto, decidimos ser alunos de música e aprender a tocar um instrumento musical -- e claro, estar entre aqueles que faziam parte da banda de música da ETFPI!

Não lembro que instrumento o Neto queria aprender a tocar, mas eu e Aroldo queríamos clarinete (Olha aí, Suzy Reis, sempre quis ser o Lula Molusco! kkk). A ideia foi linda -- a música sempre fez parte de minha vida, como diletante ouvinte --, mas, infelizmente, não fomos muito longe nessa "ideia-prima". Primeiro, que essa decisão de qual instrumento iríamos tocar não era tão simples assim, havia a decisão do maestro, o mestre, claro; segundo, que havia também a disponibilidade dos instrumentos da banda, já que não eram tantos assim. E, para meu espanto de iniciante nesse universo dos instrumentistas, recebi assustado um instrumento que desconhecia existir e que tinha um nome esquisito, bufônico: trompa. Me-desculpem os admiradores desse instrumento, mas o susto foi hilariante. A decepção, essa foi desmotivante.


Não consegui ir adiante; meus colegas, também. Não nos-saímos bem, como outros alunos dessa mesma época se-saíram: o Luiz Santos, o Wilker Marques (?!), o Daniel Aracacy, e tantos. O que valeu, ao menos, foi ter convivido alguns dias com essa figura da música piauiense, autor do hino do meu River Atlético Clube.

Fui mal. Foi mal. Ainda bem que ainda trago a música comigo. Como-a todo dia e trago... A poesia foi o único instrumento que aprendia a tocar e, com ela, hoje, eu faço músicas...

terça-feira, 24 de março de 2020

POSTAGEM ABERTA AO LEÃO: DREAD OR ALIVE




    Isturdiinha veio à minha mente reminiscências do quandonde morei em Timon, na velha Flores, numa casa, no cimo da Rua 40, distante da “cidade”, separado por uma rua de areia e barro e pedra e mato e areia e pedra e mato e barro. E se chovesse! Aff! Essa casa, que não era muita engraçada, eu comprei com muita aula, afinal, Profe que não trabalha não engole sapo! Não é mesmo, dona Cobra?
    Essa estada em Timon foi ocupada principalmente da vontade de vender aquela casa: terreno farto, 40 por 55; bons ares; toda murada; com construção faltando somente acabamento; piso bruto. Capitalismo também. Tempo de espera de venda do imóvel. Masporém, houve muita produtividade nesse tempo. Isso tudo, por volta de 2000 a 2004, marromeno, que as datas não as-gravo. Isso é mais coisa pro Stefano, o “Look at” (não por acaso, o-consultei para lembrar o nome verdadeiro do personagem de que trata esta crônica!). Eu lembro que, nesse período, em que mantive hospedado de europeus a bandidos rasos, tive um período dando teto a um cantor e compositor de Feira de Santana, na Bahia: Leão Negro ou, como lembrou o “Look at”, o Eliseu, seu nome real (sem trocadilho kayano!).
    Essa figura é o exemplo típico do músico negro pé na estrada, que tem aquela espécie “Jam session” no roteiro de viagem daqueles músicos das antigas, à la Robert Johnson e os blueseiros estadunidenses. Coisa assim. Na música do Leão (“Judah”), há referências ao trem, tão caro a esses bluesmen dantigamente. Leão era um andarilho. Queria estar em tudo o que era de lugar. “Melhor não poderia estar”. Disso ele partilhava. Taí uma coisa que aparece na sua música e que se confirma na sua vida! É, pois o Leão era de uma surpresa atrás da outra, beirando (e caindo dentro muitas vezes!) a irresponsabilidade. Que foi? Essa pergunta mesmo, que é título de música e tudo, é um exemplo desse comportamento: ela é o questionamento ao outro que estranhou de ele, Leão, estar fumando a erva rastafári, a ganja, a kaya, daquele jamaicano que ele tanto admirava, Bob Marley...
    Assim como Ludwig Schwennhagen, que escreveu seu único livro no Piauí, em 1928, Leão Negro somente conseguiu gravar seu primeiro CD também aqui em Teresina, no Piauí, com muita luta e o “mãetrocínio” de Clarice, sua amante (em todos os sentidos) timonense. Vi a correria de Leão para gravar o CD somente com o apoio de mais dois músicos (não sei se foi apenas um). Ele fez voz (principal e backing vocals), guitarra e baixo. As músicas – acredito – já estavam bem definidas. Afinal, ele chegou a nossa cidade já com alguma carreira percorrida por tantos lugares. Sei que, quando esteve em minha casa, ele fazia shows por Teresina e Timon já cantando essas suas composições. O CD saiu e Leão partiu para mais uma de suas viagens (também sem trocadilho!). Foi a Fortaleza, andou por Belém, não sei bem. Muitos lugares. Nem sei se ainda se encontra vivo – ouvi notícias de que sim. Por isso, a chamada ao trocadilho tosheano: Dread or alive. Estão muito vivos ou mortos de alegria os dreads leoninos? Alguém sabe do paradeiro desse músico?
    “Negro assanhado, negro atrevido, sem patrão e sem senhor”, como diz a música duns Malungos aqui, do Piauí. Ele não sujou na entrada nem na saída, mas fez muita bobagem nessa sua estada por estas paragens. Uma coisa é certa: deixou sua música conosco. E leiam que não foi somente as gravadas em CD. Ficou comigo, Leão, a música que fizemos juntos, naquele dia de puro misticismo negro. Dia em que ele me falou de Raul Bopp e de que “queria conhecer algo desse cara”. Algo que ecoava em mim por haver gostado de Bopp à primeira leitura! Mostrei a ele um livro do poeta antropofágico que tinha em casa: “Mironga e Outros Poemas”, da Companhia das Letras. E não é que ele, Leão, abriu o livro e bateu em cima do poema “Abisag” e, em vez de lê-lo, foi logo cantando. Que mistério maravilhoso, a música junto à poesia. Um negro que conhecia o poeta dos “poemas negros”. E mais: um poema com um sabor místico, algo parecido com que o filho de Davi cantou no Cântico dos Cânticos: um erotismo fino, mas picante (com trocadilho!).
    Foi epifânica aquela cena. Foi como um sopro, dum fôlego só a música fumaçou no ar: puro sândalo! Depois, alguns ajustes, e refrão, e ritmos, e comungamos a música, que chegou viva à minha mente e foi gravada como disco. Rígido ritmo em mente... Poema comovente, esse pedido desafiador ao Rei doente... Abysag implorando por amor de carne:

     “Meu corpo é teu, Senhor, queres beijá-lo?
     Por que colheste, no horto em que eu vivia,
     Meu corpo em flor de tâmara macia,
Sem teres forças para machucá-lo?”

   Ah, Leão, espero que onde esteja, você possa escutar ou ler esse meu texto, pois estas vibrações positivas hão de cantar aquele seu sorriso, amigo, nos disco do divino.
Jah bless you!

DAS BOCADAS INFERNÉTICAS


Assalto à mão teclada

Com a tela encoberta toda
por um tecido de códigos,
cobrindo o rosto de propósito,
um hacker le-assaltou agora,
há segundos atrás num chat,
quando le-apontou um mouse velho
e levou do bolso do poeta o quanto
ele teclou texto em sua conta.
– Copylantra!



(Luiz Filho de Oliveira. Das Bocadas Infernéticas. Editora Penalux: Guaratinguetá, 2016.)

DAS BOCADAS INFERNÉTICAS


Poeseu com Objetiva*

(Fala um dos dois poetas, distantes mil tons.)

– Ih, Millôr é o mió!
É só o mie-da-pipoca!
Eh, fulerage da peste!
É o que vejo com esta joça.

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* Esse poema foi escrito estando o Guru do Méier ainda vivíssimo em pessoa, no início do séc. XXI (xi!), em seu-mestre-mandou, ao milloriano “Poeminha sem objetivo”.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020