Como, por estes dias, o primeiro-ministro Vladmir Putin está ao vivo (aos mortos!) às telas do planeta, a vampirear o Estado russo, a mostrar-se um Vlad verdadeiro, sem dar chance à vítima (o povo de lá); então, me-lembrei desse nosso Brasilzão, em que isso ainda é possível, onde nada ainda não pode deixar de acontecer, inclusive, tudo, Lázaro. Poisbem, me-lembrei de como o Brasil já diminuiu os seus crimes políticos (leia que eu estou falando de mortes; não, de falcatruas!), mesmo havendo ainda centenas de casos país afora, nas quebradas em que só as câmeras (disseminadas à moda chinesa, baratas, feitas por trabalhadores baratos, meio Gregor Samsa) podem pegar a cena gravada, ou em que as telas expressam textos sacados contra as ditadurazinhas em países, estados, cidades de tradição nesses delitos. A Rússia ainda acusa esses procedimentos dopsianos. E lá, naquele frio capitalista (quem não possui grana o gelo não considera, congela; por isso, zil vezes a democrática nudez do calor!), me-lembrei, por fim, por causa do fim que teve, de Natalya Estemirova. Por que me-lembrei dessa ativista russa?
Poissim, para escrever isto certamente. Mastambém, porque a Natalya eu havia-lhe composto um “poema de ocasião” (deixa disso, Carlos!), publicado em meu livro, Onde Humano, de 2009, e, por querer, nesta página, ressuscitá-lo, já que não se pode fazer o mesmo com essa defensora de direitos humanos de humanos direitos ou tortos (nesse caso, os inimigos aproveitam pra jogar a opinião pública contra os ativistas políticos). Eu, segundo senti, sei por que quero homenageá-la: o seu assassínio me-comoveu. Assassinos natos (disfarçados, sem fardas; que farsa!), no Cáucaso Setentrional, na Chechênia ou na Tchetchênia, que importa? Regiões vizinhas de conflitos armados. Lei do Cão. Rússia, Chechênia, Daguestão, Inguchétia, Cabardino-Balcária e Ossétia do Norte. Federação Russa.
Rua; era noite (escura?). Cena de sequestro sujo: milicos disfarçados jogaram-na num carro. Grita Natália que eles a sequestravam. Quem ouve? Quem fez alguma coisa, lutou contra? O povo das ruas? O Parlamento Europeu, a Amnesty International, a ONG russa de direitos humanos Memorial em Grozny, a agência de notícias russa Itar-TASS? Ou o "blogueiro anticorrupção" Alexei Navalny; o dirigente da Frente de Esquerda, Serguei Udaltsov; o dirigente do movimento de oposição Solidarnost, Ilia Iachin; Islam Umarpachaev, de Grozny; Serguei Udaltsov? Todos, seu tanto de atos e palavras. Aqui, de casa, no Primavera, eu não fiz quase nada; escrevi o poema. Coisa do humano contra a canalha. Réquiem-obrigado a Natalya. De nada. Por ela, mais de mil palavras e imagens de maus-tratos, de violência contra civis, de política que policia a polícia. Milicos, como na nossa ditaduresca de AIs tantos, dão sumiço aos que incomodam (incomodavam?).
À época, técnicas de teatro que não têm nada a ver com a fidelidade de Stanislavski (o único cogitado, aqui, é o advogado Stanislav Markelov, morto em mais uma cena de emboscada, ou a jornalista Anna Politikovskaia, também, feita “boca calada”). Outra tomada para as câmeras internacionais – Dmitry Medvedev: "O trabalho de Estemirova era importante; prometo a prisão do assassino, ele será encontrado a todo custo". Os todos ativistas russos de direitos humanos sabendo: "Isso é muito difícil; ainda mais, estando Putin por trás" (e, hoje, 2012, com a chegada dele novamente à presidência; aí, tchau!).
Há algo de corrupto, violento e intransigente no governo da Rússia. Ocorre como o já escrito antes: É a cara da ditadura brasileira dos sessenta e quatro homens de farda. Tudo bem, hoje, o país chegou a um nível diplomático mais suportável, no qual pessoas que atuam como Estemirova não são um incômodo para o governo brasileiro a ponto de se ordenar que sejam mortas, não. Aqui, são mortos defensores de florestas (sejam seringueiros, sejam sindicalistas, sejam freiras), "laranjas", testas de ferro, testemunhas-chave de cadeia, mais alguns etcéteras. Ainda há muita sujeira a atapetar os salões desses governos brasileiros. Regra geral: Legislativo e executivo mandam executar mais; o Judiciário é executado dentro da Lei da Selva. Há crimes; não, castigos, Fiódor. Eles não agirão como o-fez o estudante Rodion em seu romance, não. Eles querem é mais mortes.
Que é isso, mano? Filma aí, vai! Grava! Tira a foto! Posta! Aposto que muitos irão acessar. Acesso de raiva. Tudo bem (na verdade, malzão!), não sei se é vantagem tantos crimes, no Brasil, serem denunciados, e comprovada a culpa, e nada de punição exemplar. É, haverá de haver muita morte ainda para que se-tenha a Justiça com as próprias ações julgadas honestamente. É, minha cara Natalya, é Rule without Law: Human rights violations in the North Caucasus (http://www.amnesty.org/en/news-and-updates/report/accountability-human-rights-violations-key-normalization-north-caucasus-20090701). Porque você foi forte, reconhecida com o Right Livelihood Award, do Parlamento Sueco, o “Prêmio Nobel da Paz Alternativo”, não haverá paz entre nós, pois não descansaremos até que se-atinjam direitos que não sejam fingidos, sejam humanos de justiça! Comissão da Verdade também na Rússia para desenterrar os crimes dos milicos.
Pra clarear as ideias, aqui vai a minha tocha (alumia, meu lume!), como o refrão de Tosh em sua reggae music, este poema, que insiste em se-mostrar ao mundo uma vitória contra a morte. Canta, canto:
crimes sem castigo?!
encontrou-se Estemirova
a indefesa ativista russa
em defesa dos direitos humanos
na mira das armas duma canalha
esses humanos tortos deixaram na
estrada seu corpo cravado à bala:
a cabeça e o peito dela (Natalya)
foram calados mas eles não se-calam
a denúncia de execuções arbitrárias
sempre as autoridades desagradava e
vai desagradar semelhante a Politkovskaïa
sua amiga também Anna jornalista assassinada
como o-foi Markelov da mesma forma marcado
Stanislav prometido o fígado à morte no Cáucaso (teatro?)
todos sabem: os autores desses crimes não vêm da fábula
todos sabem: os autores desses crimes não vêm da fábula
eles vestem o figurino dito personagem: a farda de
políticos atentados à vida contrários à humanidade com
os ataques contra quem quer o bem das pátrias
Natalya (que não mais nos-ouvirá as falas) quem fala
pelo poema atirado duma notícia de jornal nesta página
é um povo: todos nós nos-confessamos horrorizados
com essa sua marcada morte anunciada pela desguarda
pra diplomacia deste planeta uma considerável baixa
pra quem luta pelos direitos de ser o humano respeito
porisso aqui jaz um grito: nós não descansaremos em paz
e ressuscitaremos duma Jamaica negra estas palavras
que ressoam como fogo de Tosh em frase incendiária:
we don’t want no peace: we need human rights and justice
(Em Grozny, a pisar nos calos do Cáucaso tchetcheno.)
(Luiz Filho de Oliveira. Delituras Crônicas. 2012.)
6 comentários:
Vergonhosa é a justiça brasileira. Em muitos dos casos, na maioria deles, ou não há punição alguma ou ela é uma piada no seu cumprimento.
Além do acompanhamento irresponsável feito pela mídia nesses momentos. Casos como o assassinato de um cachorro vira um espetáculo de comoção social e o assassinato de ativistas políticos contra os grileiros é apenas uma notícia a mais.
Mas também, Lucas, como há juízes nesse nosso país que se deixam corromper, que vendem sentença, que não fazem as leis serem respeitadas de fato! Assim, não há como confiar nas "garantias" que a justiça dá às vítimas.
Aquí siempre hay aires nuevos, noticias que analizar y vibrantes debates que discutir. Este de hoy lo es.
Agradecida Luiz, por todo lo ofreces.
La justicia, casi siempre lleva un "in" delante.
Besos
Gracias, Penélope. Gosto muito de poemas que gritam contra injustiças, onde quer que elas hajam. O assassínio de Natalya Estemirova é prova mais do que cabal de que a vida neste planeta ainda vale muito pouco.
Impressionante o seu escrever... ele flui nos trazendo notícia, debates e poesia. Que luxo é vir aqui te ler... e conhecer mais. Obrigada.
Beijo.
Obrigado a vc, Teca, por ser uma leitora tão gentil com as postagens deste blog. Até mais páginas.
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