|
Eu e minha mãe. 2013. |
Uma caboca macha, minha mãe! A
Rosa dos Sena Rosa. Seu nome de batismo: Francisca das Chagas Rosa. Depois, de
Oliveira, sem Rosa. Um tipo bem apessoado: pele avermelhada (depois um tanto morena
de tanto sol trabalhar!), olhos da cor de mel, cabelos negros. Hoje dançam cancan
sua cãs, pela alegria de tantos anos vividos. Seu pai era um homem de olhos
azuis; ancestrais dalém mar, mais que portugueses. Sua mãe, como meu pai. Do
casamento, oito filhos. Um já falecido, o terceiro; não conheci esse mano meu.
Pequenino, três aninhos, falecido. Vingaram sete. Destes sou o caçula. O
ultimogênito. O passa-a-régua de seu casamento com um caboco de traços meio
cafuzos, meio mamelucos, outras partes com tons orientárabes. Deles, eu.
Euzinho, que escrevo texto o que celebra todas as bênçãos e benças pra ela.
Minha mãe nasceu. Vivo 77 vezes 45 vezes sua alegria de viver.
E o presente, para uma pessoa
desse naipe? Dificuldade fácil. Apois, neste parágrafo não dá pra fugir do
lugar-comum, e o jeito é cair nele: não tem dinheiro que pague! Graças a Jah,
pois até estou um tanto desprevenido. Mas tou pensando, mãe. Mas, antes, quero
le-dar algo por demais valioso e que guardo comigo para estas horas solenes: o
meu respeito pela senhora. Sim, mãe, o meu respeito. Claro, eu, que, criança e
adolescente, beliscando a fase adulta, le-faltei, nalgum momento, com este que
deve ser o primeiro artigo da lei de todo ser humano – principalmente, com sua
progenitora (e não se-trata, aqui, de questionar a participação dos pais, não!)
–, esse eu desse tipo não pode ser considerado querido, respeitado. Mas cresci,
mãe. Sim, tou crescido a força e coragem minhas. Cresci junto com esta
hipérbole: le-tenho o maior respeito do mundo! E carinho, sobretudo; sobretudo,
que a senhora e papai, como dois sertanejos rudos, nos-privaram de certos
afagos e beijinhos, sobretudo, de abraços. Hem-hém, nós, irmãos, somos pouco de
abraços e beijos. Porisso, o respeito exigido.
Agora, dar na mãe?! Arriégua, desconjuro!
Jamais atentaria contra esse segundo artigo da Lei dos Doidos, aquela que,
quando eu menino, no Primavera, o Bolola sempre colocava como absurda, aquela
que condena à pena de ser considerado louco todos os que obedecerem a estes
três artigos: correr nu; dar na mãe; rasgar dinheiro. Não. Não violo nenhum
deles e canto isso sem viola: minha capela é outra; meu santo é barroco e maldizentemente
baiano! Não canto sozinho, há tantos, como eu, o coro come cantando: respeitoso
às mães; aos canalhas, nunca! É, conheço um canalha que batia na mãe dele e
dizia que aprendeu isso comigo. No meu bairro, meu vizinho. Traiçoeiro, esse
que se-disse, por longos anos, ser amigo. Venenoso, esse sujeito sem escrúpulo.
Ele batia na própria mãe. E acreditem, se-achava – e ainda se-acha! – melhor
que muita gente boa por aí. Tá bom, bonito! Pensa que é a bala (e nem chega aos
pés do Bala dos Capitães da Areia, que era mala!). E é que, se eu fosse
homofóbico, como pensam, às vezes, alguns apressadinhos desta rede e de outras
camas, eu meteria o irmão dele, ou melhor (pra ele!), o irmã dele, que, além de me-caluniar do mesmo jeito, ainda dizia
qu’eu era viado, como ele (pelo amor de Jah, sem trocadilhos; senão, ela
goza!). Comigo não, violão! Desarreda! Não admito essas canalhices! Comigo,
mãe, meus respeitos sempre à senhora, que pagou muito caro para criar a mim e
meus irmãos. Muito trabalho. E hoje, mãe, tenho certeza de que meu presente é
valioso: meus respeitos, minha mãe. Poissim, mãe, sei que não le-dou motivos
algum para ter vergonha de mim. Me-orgulho da senhora. Aprendi: eu sempre
respeito a todos e ensinei isso aos meus filhos até onde eu pude. Hoje eu
me-orgulho do caráter deles e do meu, então, nem se-fala ou se-escreve!. Essa é
a única herança sua que me-interessa. E ela não é somente um quarto, nem um
terço (não tem choro nem vela), ela é INTEIRA!
Sou o que sou, mãe, porque, criação
ruda de afagos, mas plena de exemplos, tenho bastante caráter. Ótimos, a
senhora e, também papai. Agradeço-os. Agradeço-a principalmente: rainha. Da
minha vida o DNA do respeito, do caráter honrado, do trabalho. Se pudesse,
faria mais. Mas a vida intensa de trabalhos, de responsabilidades, me-fazem
omisso, muita vez, com a senhora. Aquele egoísmo de querer evitar o mundo pra
ganhar algum dinheiro – nunca os trinta! Sempre fiel à senhora. Jamais trair a
família, que isso é uma armadilha pros irmãos. Jamais ser canalha com irmãos e
com vocês principalmente, meus pais, minhas mães. Minha mãe, pra fugir dos
erros, 77 vezes celebro teus anos: 45 vezes vivo sua vida fora do teu útero.
Íntegro. Amanhã é seu dia; o dia é todo seu, mamãe. E vai ganhar estes meus
presentes.
Seu filho, Filho. Neste ano de 2013. Neste agosto, este meu gesto, meu texto. Parabéns.