quarta-feira, 18 de abril de 2012

Em memória de FERNANDO COSTA: dois elegiam; outro, biográfico!


Autorretrato. Fernando Costa



FERNANDO: A GOLPES DE ESTILETE


Fernando era como um alquimista. Era um mago medieval, mas demasiadamente moderno – eterno. Um mágico sem truques, mas com muita magia em sua arte. Era um bruxo, um demiurgo e/ou taumaturgo. Um demiurgo, como dele disse Clóvis Moura. Demiurgo e demônio, tanto faz. Demônio e santo, tudo junto e algo mais.

Aquele algo mais que o fazia erguer do caos primordial do nada/ser suas belas gravuras a golpes de estilete. Traçava em longos e lestos e lentos gestos de prestidigitador o desenho na borracha. Depois, com o estilete, diligentemente, a desbastava, até arrancar a forma perfeita de sua linogravura.

Mas o seu arrancar era feito suavemente, quase como se não tocasse a matéria, tal era sua agilidade. Acaso não tivesse esse dom encantatório daqueles que sabem seu ofício como um deus, usaria fórceps para extrair sua arte dos umbrais do caos das formas informes.

Fernando Costa era uma pessoa delicada. Talvez por isso não teve a dureza necessária para enfrentar as vicissitudes do simples existir, do simples estar no mundo. E as crises existenciais se abateram como golpes de estiletes sobre sua alma sensível e gentil. E as angústias repercutiram em sua arte, principalmente em sua pintura, que por vezes tomava formas aparentemente desordenadas e sombrias. Ao criar como ninguém, ousou desafiar os deuses, e os deuses enciumados fizeram com que o Grifo da destruição se rebelasse contra o artista, na metafórica e literalmente lapidar expressão de Ivan Junqueira: “Se o homem cria, ele o espedaça e pisa, triunfante, entre os escombros da agonia.”
Certa vez, Fernando, diante de um quadro do pintor e pirógrafo Sica, como se estivesse em transe, ou como se visse além das aparências óbvias, redundantes e vulgares, exclamou com viva admiração e júbilo pelo trabalho alheio, apanágio dos bons e dos não invejosos:
Mas que azul fundamental!...


E um dia, em pleno carnaval, sem nenhuma explicação aparente, como as grandes obras de arte, Fernando esvaiu-se em sangue, em vermelho, num ritual de morte digno de Mishima, ou das mutilações de Van Gogh, através de golpes de estilete contra si mesmo desfechados, arrancando à força, em seus últimos gestos, mais uma vez ousando contra a fúria dos deuses, o seu mais profundo vermelho.
O seu vermelho fundamental.


(Elmar Carvalho. Fernando: a golpes de estilete. IN:  www.180graus.com/blog-literario/24 e http://poetaelmar.blogspot.com)


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sobre o realismo plástico artista: um homem em sua obra*

de tinta de sangue
fez-se teu nome - Fernando –
personalíssimo & transferível ao poema

pelo bendito ódio à vida
que se-gerou imagem sangüenta
de tanta pintura e quanta violência!

ah.. quadro profundo!
teus punhos teu ventre teu grito teu estilo
compunham tua mais crua obra prima & derradeira

(No Primavera; próxima, a praça que tem, sim, seu nome próprio.)

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*Em memória de Fernando, um artista plástico do meu bairro, nessa rota pela Costa de duas artes piauienses**.

(Luiz Filho de Oliveira. Onde Humano. Teresina: Nova Aliança, 2009.)


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FERNANDO ANTONIO DA SILVA COSTA (1961 – 1987)


Esse teresinense foi desenhista, pintor, gravador e ilustrador, fez estudos de bico de pena com Marcos Cremonese e de gravura com Antonio Thyrso, em 1979.

Participou de exposições individuais e coletivas em vários centros culturais brasileiros: coletiva inaugural da Galeria Des. Cromwel de Carvalho (Teresina/79); salão de Artes Plásticas (Teresina/77 e 78); coletiva na Galeria Encetur - Garden, Ceará/76; individual na Galeria Des. Cromwel de Carvalho Teresina/76; I Salão da UFPI Teresina/77 (1º prêmio em desenho); coletiva de artistas piauienses no Rio Grande do Sul/78; coletiva de artistas piauienses e pernambucanos no Teatro 4 de Setembro Teresina/78; Projeto Arco Íris, reunião de artistas piauienses e maranhenses Rio de Janeiro/78; coletiva de artistas piauienses em Brasília/78; I Encontro com a Cultura brasileira 1978; coletiva no Centro de Convenções do Piauí, Teresina/79; individual na Galeria de UM'DART, Teresina/79; Salão Nacional MAM, Rio de Janeiro/80; POSTER BRIGAD , Califórnia/80; II Mostra de Desenho Brasileiro, Curitiba/81; VII Salão de Artes Plásticas do Piauí (1º prêmio em desenho), Teresina/81; 38º Salão Paranaense (prêmio em desenho), Curitiba/81; I Salão Nacional de Humor do Piauí, Teresina/82; Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará (convidado especial), Ceará/82; coletiva do Caesar Park Hotel, Rio de Janeiro/83; Salão de Artes de Santo André, São Paulo/84; Artistas Brasileiros Pelas Diretas -Folha de São Paulo- SP/84; "CUIABÁ UMA CIDADE COMO VOCÊ IMAGINA", Cuiabá/84; Prêmio Shandon Arte e Vinho (prêmio aquisição); INTINERÁRIO Rio/São Paulo/Brasília/85; Salão de Artes de São Paulo 1986.

“Fernando Costa, artista piauiense de grande expressão e importância por deflagrar um processo de renovação nas artes plásticas piauienses. Há toda uma geração de artistas que ainda hoje sofre influência de Fernando Costa”, afirmou Cineas Santos por ocasião da “primeira grande exposição” do artista, feita em agosto de 2009, em Teresina, na Casa da Cultura.


11 comentários:

Anônimo disse...

Caro Poeta,eu não sou poeta,mas aprecio muito os trabalhos da poesia bem escrita.As suas,são ímpares!Me desculpe escrever assim,mas é que não sou muito bom com as palavras.Mas o que me trouxe hoje ao seu blog,foi só um acaso...eu estava lembrando de minha adolescencia e veio a mente uma menina tímida,de nome Suzy...era a pessoa que eu mais admirava na sala...Certa vez,ela num momento seu ,de angustia,sei lá,talvez felicidade,me falou de um cara que ele gostava muito e que tinha perdido contato...pois é caro Poeta, eu já te conhecia e nem sabia que eras uo POETA...que felicidade a minha de rever alguém de quem eu mais gostava...talvez esteja meio confuso o meu texto,mas eu só queria que se por acaso encontar a Suzy,diga que eu nunca esqueci nossas converas e que eu espero que ela tenha lhe econtrado...pois ela o amava de verdade!Adorei ter lido o su trabalho,parabéns! Um abraço,Lobão.

Luiz Filho de Oliveira disse...

Grato, Lobão, pelo incentivo. O seu recado a Suzy ela mesma lerá aqui, no blog. Até mais páginas.

Suzy Reis disse...

Lobão,foi com imensa alegria q li sua msg. Eu encontrei o meu amor, este poeta d q vc gostou, e casei com ele. Estou mto feliz...e adorei saber q ainda lembra de mim,de nossas conversas. Deu uma saudade daquele tempo. Espero q esteja bem. Um grande abraço.

Anônimo disse...

Caro Poeta, o seu blog é mto interessante.Vc escreve mto bm.Parabéns pelo seu trabalho! Q bom q vc encontrou a Suzy,pois ela é uma pessoa maravilhosa!Diga a ela q mandei um grande abraço,e parabéns pelo casamento.Atualmente moro em Brasília e talvez m mudo p Londres.Vou continuar lendo seu blog.Um abração p vce a Suzy.Vc é um intectual,escreve mto bm.

Fred Caju disse...

Massa você ter recordado o Costa. Não conheço a sua obra, mas qualquer relato de memória a quem se dedica à arte é louvável.

Aproveitando, deixo aqui um vídeo para xs leitorxs do espaço: http://vimeo.com/40411264

Luiz Filho de Oliveira disse...

Não se pode deixar de memoriar aqueles que bem merecem, não deixando o que é bom de lado, mas de frente com as telas dagora. Pode pintar na área a vontade. Até mais páginas!

Anônimo disse...

Caro Poeta Luiz,gostei muito do seu livro,Onde Humano.O que maios me chamou atenção foi a divisão em partes,pois fica melhor para viajar nos poemas.Vc escreve mto bm,tm mto conhecimento.Espero q vc lance mais livros...vou continuar lendo o seu blog!Não posso usar o comp. por uns dias...coisa de adolescente,mas passei aki na lan p dizer q vc é um Super Poeta.Com todo respeito,suaesposa é linda.Abração,David Muller.

Anônimo disse...

Adorei vc ter escrito sobro o Fernando Costa.Ele é meio sinistro,mas pintava bm.Parabéns! Jorge Cury.

Luiz Filho de Oliveira disse...

Tô por aí, David, preparando um livro de poesia satírica. Qdo terminar, aviso.

Jorge, Fernando era mesmo um artista que tinha um traço forte.

Tais Luso de Carvalho disse...

Caro Luiz, hoje estou andando pelo seu blog, tomando conhecimento de vários poemas interessantes.
Deixo aqui um abraço.
Tais luso

Luiz Filho de Oliveira disse...

Fique à vontade, Taís. Q bom é ter leitores interessados em nossos textos! E volte sempre!