segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O ROLA-BOSTA NOVO AINDA É PRIMO DO ESCARAVELHO




Eu bem que poderia pesquisar alguns dados no Google (a enciclopédia que não é Barsa; tampouco, Corínthians!) para dar mais informatividade ao meu texto e a você, leitor; mas prefiro ficar somente nas meias palavras: kd vc, Rola? Td blz? Rola uma resposta: - Gracinha. Pergunto: - Quem achou disso graça? Por favor, isso não grassa nesse texto. Deixemos de pendenga; vamos a ele. Calma, eu enrolo-o, porém vou escrever o que me-resta de dados acerca desta personagem: o besouro Rola-bosta. Vixe!

É certo que esse nome não é nem um pouco digno para um indivíduo tão forte (será também, a sua personalidade?). E mais: para quem tem um parente tão nobre quanto o Escaravelho. De ouro? Talvez, depende de quanto a gente vai beber, depois de ler nosso amigo Poe. Já pensou em sorver um barril de amontilado? É porre que nem presta! Pois bem, o Rola-bosta é tudo isso, pois consegue patipular (é manipular, mano?), um objeto que seja não sei quantas vezes mais pesado que a quantidade de seu próprio peso. Incrível. Como diria um picoense (de Picos, Piauí!), certa feita, ao meu amigo Dery: É peeeso!

Emais isto: errada feita, o Rola me-deu de presente um poema. Mas, primeiro, um susto. Como pode, um sujeito desses tão forte, e tão estúrdio: não sabe voar nem um pouco. É tonto. É louco quando voa, só pode! Nesse dia, o sujeito voava atônito ao redor de mim (qual foi o tônico que ele tomou pra ficar forte assim?). Isso incomodava minha concentração, até que ele conseguiu aterrissar e a cena se-deu como poema:


Não existem fantasmas nem milagres (porém, cuidados)

Cena: o Poeta, trabalhando poema,
olha no chão “uma tampa que anda”; e ele
nota, míope, que ela desliza cerâmica, estranha.

“Uma alma doutro mundo?!” –
pensa, estudante com ciências filosofando poema,
e não vê o porquê daquele enigma físico fenômeno;

então, rápida, a mente, entanto tensa,
põe os óculos para ver tomemente este fato:
um rola-bosta forte e atônito empurrando o Tupperware!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

SONETO PARA TERESINA



Há dois anos, resolvi participar de mais um concurso de poesia (percurso que deve seguir todo poeta novo a fim de que seja (re)conhecido), intitulado “Soneto para Teresina”, promovido pela TV Cidade Verde, com o patrocínio de uma loja de equipamentos de informática; as duas, aqui, de Teresina, no Piauí. Mas, como um poeta de final do século XX e início do XXI, que se-diz comprometido com a poética moderno-contemporânea, pôde participar desse evento, se o soneto, como o poema-símbolo das tendências clássicas, sempre foi rechaçado por esses poetas que frequentam tal poética?

Eu somente vou responder a uma pergunta dessas porque fui eu mesmo quem ma-fez e porque vocês, leitores, sabem que isso é estratégia de início de texto. Por isso, vamos a uma conversa afiada ao invés de a uma fiada. Pois bem, resolvi entrar na disputa (ainda irei à Daspu) porque houve algumas confluências de fatos, os quais me-impeliram ao trabalho. Nada de “mágico”, “profético” ou “enigmático”, que isso são bobagens; o que houve é que, desde a universidade, resolvi acatar a sugestão de participar de concursos para que pudesse ter o meu trabalho avaliado por “especialistas”, dada por Afonso Romano de Sant’ana, em seu livro Como Fazer Literatura. Até aí, nada de mais, pois, mesmo que em certos casos (isso é errado!), o júri e os jurados privilegiem os seus próprios critérios, essa é, sim, a principal estrada que devem seguir os “estagiários” em poesia. Assim foi, e fui.

Todavia, a entrada, de fato, nessa via de mão dupla (leitor & leitura), na data a que me-referi antes, agosto de 2008, deu-se, sobretudo, pelo fato de eu, por esses dias, ter lido o poema “Todos cantam sua terra, também vou cantar a minha”, de Torquato Neto, cujo título são versos do poema “Minha Terra”, de Casimiro de Abreu. Que belezura de palavra Torquato cria logo no início do texto: Tristeresina. Quando vi-a, não foi difícil pegar a estrada pros rumos da Bahia: Salvador me-saudou com aquele belo soneto do Boca do Inferno, Gregório de Matos e Guerra, “Triste Bahia! Oh quão dessemelhante”. A ideia começou a se-balançar (balouçar nunca mais?) no meu trapézio machadiano. E foi-se cortando a carne do ar, soando as palavras de um velhoutro soneto, o meu.

Incrível: eu estava escrevendo um soneto. Então me-veio à mente a máxima máxima de minha existência poética (e mesmo, de vida): não seguir totalmente a seo Ninga. Compreendem? A seo Ninguém! Por que não, um soneto? Ainda mais que a sua composição exige um tanto de paciência e perícia. Assim me-pus a fazer, a buscar a rima, a contar as sílabas, a trabalhar o tento. Saiu bonzinho. Tanto, que fui classificado em terceiro lugar no concurso. Que maravilha. Fiquei atrás de Zé Rodrigues (autor da famosíssima, pelo menos em nossa capital, música “Teresina”, juntamente com o maestro Aurélio Melo) e do poeta Hardi Filho, um proficiente sonetista piauiense, da Academia Piauiense de Letras, classificados, respectivamente, em primeiro e segundo lugares. Eu fui terceiro. Nada mal, para um iniciante. 

Apois, o que me-deixou um tanto confiante era que o júri do concurso iria ser presidido por Cineas Santos, um decano da nossa literatura, tanto na produção de literatura quanto de eventos de literatura. Esta aí o Salão do Livro do Piauí (SALIPI) para comprovar sua competência (mesmo que ele já tenha dito de que foi chamado pelos idealizadores do salão, não se-pode negar que ele foi convidado porque é um dos nossos principais nomes na cultura deste estado). Não me-decepcionei, foi o que me-disse a minha classificação. E mais: nos bastidores, o ancioso (calma, o C é um trocadilho escroto, com o apelido que Cineas gosta de dar a si mesmo e que lhe-foi posto por algum desafeto, segundo disse) confessou-me secretamente que meu poema poderia ter sido classificado em primeiro e que somente não fez isso porque o texto era de tom satírico e não ficaria bem dar um prêmio, no aniversário da cidade, para um poema que falava mal dela própria. Não ficaria bem com o patrocinador e, sobretudo, com a TV (não sei se com o público).

Tudo bem, isso já era muito bom, já que o “plano A” era somente participar ao vivo do programa e fazer uma propaganda de minha poesia via satélite para todos os teresinenses e, por extensão, para todo o meu estado. Porém, apareceu este “plano B”: além do elogio do mestre Cineas, ainda consegui receber, como premiação, um computador; este, com que escrevo este texto e pelo qual o-posto na rede (sem trocadilho, nada de oposto!). Ai, que preguiça, Mário. Acho que vou para minha rede.Vou, paro. Mas, antes, o poema:

reinscreve um poeta a seu passo a nova capital & a passada capitania de Piaguí*

tristeresina: um quê de semelhante
estás ao que era nosso antigo estado
(rico de nativos mortos por gados)
em este mote alheio & cambiante

se a ti tocou-te a máquina mercado
esse ouro que apaga muito brilhante
a nós todos aqui tem-nos-tratado
com os dous ff dum poema dantes

deste estado – a quem não deste por renques
as carnes como o-fez à gente ruda
de Bahia Pernambuco Minas (mortes!) –

há quem alegoricamente tente
fazer ainda uma vaca bojuda
para carnes & poemas de corte

 
(De Oeiras, Salvador, Ouro Preto, Recife a Teresina, em estados de Brasil.)


* A Cineas, homem com letras, de cimos Sãos & Santos.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Uma personagem em dois espaços de amor: Omar romano (ANTIQUUS) e alto-longaense (novivíssimo)




digital ligação fonológica


o amor de Omar
um ramo de mim persona
mora em Roma agora (longe!)

onde não o mar nem a garoa
oram entre nós a mor distância
aqui & ali chamada roam






Alto Longá no caminho dum poeta

Este alto lugar tem mangueiras
das quais nunca ele vai mangar,
pois que a manga é saborosa
e a terra, pomar para Omar.

Ao cantar, unindo o som
da sua voz à do povo de cá
mais prazer encontra Omar – 

Ah! Esta terra tem-lhe fervores
que amor a ele permite gozar.

Porque era tarde, havia, a tanto custo,
à copa das mangueiras, a lua;
ao copo dos brincantes, a cana,
o poeta fazia por isso gosto;
por isso, na carne do ar, ele canta:

– À voz do meu amor, meus passos movo,
onde o luar as folhas claro-escuram,
cobrindo os cimos do céu; no mimoso
tapiz de folhas líquidas, eu todo, ela nua.