Eu inscrito
à pele em fala ao poético de Hughes
– Eu sou negro
mesmo,
como os meus
antepassados todos,
passados na
África, antes da Diáspora trágica!
Eu estudo no
Brasil, numa escola pública;
aqui se-comemorou
a Abolição da Escravatura,
mas só se-falava
na tal da canetada no gabinete da princesa!
Eu escuto umas
histórias,
cantadas por
minha velha vó negra,
e ela fala dos
sofrimentos de uma raça caçada!
Eu leio uns
escritores negros;
com eles, eu
aprendo a ser eu mesmo,
fragmento
reunido a outros em continente novo!
Eu canto umas
canções antigas,
respostas de
bocas sabidas magistas;
a fazer o
trabalho virar em cigarra a formiga!
Eu escrevo uns
poemas negros,
em que o espelho
sou eu e todos os outros mais velhos;
para falar aos
mais jovens sobre o peso de estar ser negro!
Eu construo um
futuro, agoraqui, passado
no alho, nos
olhos, nos atos, nas positivas palavras ,
atitudes de
afirmação de orgulho dos que são da cor da noite!
Eu jogo capoeira
na América brasileira,
arte-manha das
armas do meu corpo musculoso;
Ginga, que,
Rainha, vinga luta contra a opressão do meu povo!
Eu
danço, livre mente, mesmo;
marcando, com
passos alegres, a tristeza do meu canto,
tradição
traduzida para as raízes do blues, jazz, reggae, samba!
Eu ensino numa
escola,
superior àquela
que em ontens me-deram,
para ministrar o
caminho que o mundo africane (creio)!
Langston Hughes
Antelei
Negra ou Lei Clara de Luiz Gama
Se o corte do
grito for executado homicídio
por um escravo,
na pessoa do opressor – claro! –,
perante o
Direito de todos, estará ressalvado!
Todo humano a
ser escravizado
(escuro!) tem o
direito do punhal
para rasgar
qualquer naco de liberdade!
Apois, todo
crime discriminado
como sendo uma
verdadeira defesa legítima,
legítimo, para
os Juízos, será e não considerado!
Toda disposição
em contrário,
como gera reação
à geração da vida escrava,
encontrará
contrários levantados com armas contra ataques!
Luiz Gama
Ex-Klu-Klux-Klu-Ídos
(Cantiga maldizente tirada da TV como notícia)
Isto quase
ninguém viu, ouviu;
dito, entre
vistas ou vidas, por Chico
(depois de
tantos séculos da ruda Diáspora):
No Rio,
Carlinhos e sua Filha com o Filho
foram
considerados, sem ambiguidades,
pelos podres de
rico dum condomínio chic
(com tanta grana
quanto!), persona non grata!
E eles só vinham
da Bahia, tipo férias,
e o Rio dessa
gente burra e perversa
desaguou rios de
preconceito-fera,
cópia mascarada
dum país mais velho
nesse mau
exemplo de quem pensa
ser tope de
linha, mora?
Repito
(perito!):
Foi no domínio
de feras;
condomínio,
férias, vindos da Bahia,
os três, sem Rio
de Janeiro.
Foi no Rio de
Janeiro,
vindos (férias!)
os três da Bahia;
condomínio de
feras – sem domínio?
Carlinhos Brown
Sem
essa de correta política nestas leituras em negrito
Foi um negro de
sorte,
ganhou uma nota
preta: carvão!
Agora, verde a
sexta-feira treze!
Então, deixou
outro bilhete no quadro negro
da escola em que
trabalhava, professoral:
“Estou podre
de rico, mudei de sala.
Adeus, amigos,
vou trabalhar noutra praia”.
E naquela noite
negra, estreluarada, viva,
saiu levando
brilhos somente dentro de si
legando
ao Poeta seu primeiro Poema Negro.
(LUIZ FILHO DE OLIVEIRA. Das Bocadas Infernéticas. WEB: Deleitura, 2012.)