Autorretrato. Fernando Costa
FERNANDO:
A GOLPES DE ESTILETE
Fernando era como um
alquimista. Era um mago medieval, mas demasiadamente moderno – eterno. Um
mágico sem truques, mas com muita magia em sua arte. Era um bruxo, um demiurgo
e/ou taumaturgo. Um demiurgo, como dele disse Clóvis Moura. Demiurgo e demônio,
tanto faz. Demônio e santo, tudo junto e algo mais.
Aquele algo mais que o fazia erguer do caos primordial do nada/ser suas belas gravuras a golpes de estilete. Traçava em longos e lestos e lentos gestos de prestidigitador o desenho na borracha. Depois, com o estilete, diligentemente, a desbastava, até arrancar a forma perfeita de sua linogravura.
Mas o seu arrancar era feito
suavemente, quase como se não tocasse a matéria, tal era sua agilidade. Acaso
não tivesse esse dom encantatório daqueles que sabem seu ofício como um deus,
usaria fórceps para extrair sua arte dos umbrais do caos das formas informes.
Fernando Costa era
uma pessoa delicada. Talvez por isso não teve a dureza necessária para
enfrentar as vicissitudes do simples existir, do simples estar no mundo. E as
crises existenciais se abateram como golpes de estiletes sobre sua alma
sensível e gentil. E as angústias repercutiram em sua arte, principalmente em
sua pintura, que por vezes tomava formas aparentemente desordenadas e sombrias.
Ao criar como ninguém, ousou desafiar os deuses, e os deuses enciumados fizeram
com que o Grifo da destruição se rebelasse contra o artista, na metafórica e
literalmente lapidar expressão de Ivan Junqueira: “Se o homem cria, ele o espedaça e pisa,
triunfante, entre os escombros da agonia.”
Certa vez, Fernando,
diante de um quadro do pintor e pirógrafo Sica, como se estivesse em transe, ou
como se visse além das aparências óbvias, redundantes e vulgares, exclamou com viva
admiração e júbilo pelo trabalho alheio, apanágio dos bons e dos não invejosos:
Mas que azul fundamental!...
Mas que azul fundamental!...
E um dia, em pleno
carnaval, sem nenhuma explicação aparente, como as grandes obras de arte,
Fernando esvaiu-se em sangue, em vermelho, num ritual de morte digno de
Mishima, ou das mutilações de Van Gogh, através de golpes de estilete contra si
mesmo desfechados, arrancando à força, em seus últimos gestos, mais uma vez
ousando contra a fúria dos deuses, o seu mais profundo vermelho.
O seu vermelho fundamental.
O seu vermelho fundamental.
(Elmar Carvalho. Fernando: a golpes de estilete. IN: www.180graus.com/blog-literario/24
e http://poetaelmar.blogspot.com)
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sobre o realismo plástico artista: um homem em
sua obra*
de tinta
de sangue
fez-se
teu nome - Fernando –
personalíssimo
& transferível ao poema
pelo
bendito ódio à vida
que se-gerou
imagem sangüenta
de tanta
pintura e quanta violência!
ah..
quadro profundo!
teus
punhos teu ventre teu grito teu estilo
compunham
tua mais crua obra prima & derradeira
(No
Primavera; próxima, a praça que tem, sim, seu nome próprio.)
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*Em
memória de Fernando, um artista plástico do meu bairro, nessa rota pela Costa
de duas artes piauienses**.
(Luiz
Filho de Oliveira. Onde Humano. Teresina:
Nova Aliança, 2009.)
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FERNANDO ANTONIO
DA SILVA COSTA (1961 – 1987)
Esse
teresinense foi desenhista, pintor, gravador e ilustrador, fez estudos de bico
de pena com Marcos Cremonese e de gravura com Antonio Thyrso, em 1979.
Participou
de exposições individuais e coletivas em vários centros culturais brasileiros:
coletiva inaugural da Galeria Des. Cromwel de Carvalho (Teresina/79); salão de
Artes Plásticas (Teresina/77 e 78); coletiva na Galeria Encetur - Garden,
Ceará/76; individual na Galeria Des. Cromwel de Carvalho Teresina/76; I Salão
da UFPI Teresina/77 (1º prêmio em desenho); coletiva de artistas piauienses no
Rio Grande do Sul/78; coletiva de artistas piauienses e pernambucanos no Teatro
4 de Setembro Teresina/78; Projeto Arco Íris, reunião de artistas piauienses e
maranhenses Rio de Janeiro/78; coletiva de artistas piauienses em Brasília/78;
I Encontro com a Cultura brasileira 1978; coletiva no Centro de Convenções do
Piauí, Teresina/79; individual na Galeria de UM'DART, Teresina/79; Salão Nacional MAM, Rio de
Janeiro/80; POSTER BRIGAD , Califórnia/80; II Mostra de Desenho Brasileiro,
Curitiba/81; VII Salão de Artes Plásticas do Piauí (1º prêmio em desenho),
Teresina/81; 38º Salão Paranaense (prêmio em desenho), Curitiba/81; I Salão
Nacional de Humor do Piauí, Teresina/82; Salão Nacional de Artes Plásticas do
Ceará (convidado especial), Ceará/82; coletiva do Caesar Park Hotel, Rio de
Janeiro/83; Salão de Artes de Santo André, São Paulo/84; Artistas Brasileiros
Pelas Diretas -Folha de São Paulo- SP/84; "CUIABÁ UMA CIDADE COMO VOCÊ
IMAGINA", Cuiabá/84; Prêmio Shandon Arte e Vinho (prêmio aquisição);
INTINERÁRIO Rio/São Paulo/Brasília/85; Salão de Artes de São Paulo 1986.
“Fernando Costa, artista piauiense
de grande expressão e importância por deflagrar um processo de renovação nas
artes plásticas piauienses. Há toda uma geração de artistas que ainda hoje sofre
influência de Fernando Costa”, afirmou Cineas Santos por ocasião da “primeira
grande exposição” do artista, feita em agosto de 2009, em Teresina, na Casa da
Cultura.