poema sem além para Neruda
que dirias tu (poeta)
se pudesses ler estes versos trabalhados 
a uma humana homenagem tua?
sim... se pudesses pois creio: 
não deve haver crença física em ser 
uma vida o tal do mundo eterno
eu te-sinto sim (amigo)
nos espaços a que me-conduzes aqui
(pegada em tua mão a minha... página)
e no barro que deseja ser moldado forma  
(confeccionar do humo a força humana!)
e na palavra que voa página até a orla
(vagando tal onda em memória)
que posso esperar (poeta)
se eu também não disse nada?
se não fui as mãos que te-construíram 
os caminhos por onde passaste pássaro 
ou peixe ou barco ou nave ou palavra
ou somente humano: estados
ah... meu sereno chileno em tormenta
onde estou a terra a gente a vida estão
a ocupar este meu ser de teu clima: deste
de que me-aproximo para louvar a mar
a ti (amigo) que me-doaste a canção o grito 
desesperados o amor o poema os sentidos
neste terreal paraíso 
(Estando além do que poderia estar e querendo o Chile.)
(Luiz Filho de Oliveira. Onde Humano. Teresina: Nova Aliança, 2009.)
Las Manos Negativas
Cuando me vio ninguno
cortando tallos, aventando el trigo?
Quién soy, si no hice nada?
Cualquier hijo de Juan
tocó el terreno
y dejó caer algo
que entró como la llave
entra en la cerradura:
y la tierra se abrió de par en par.
Yo no, no tuve tiempo
ni enseñanza:
guardé las manos limpias
del cadáver urbano,
me despreció la grasa de las ruedas,
el barro inseparable de las costumbres  claras
se fue a habitar sin mí las provincias  silvestres:
la agricultura nunca se ocupó de mis  libros
y sin tener qué hacer, perdido en las  bodegas,
reconcentré mis pobres preocupaciones
hasta que no viví sino en las  despedidas.
Adiós, dije al aceite, sin conocer la  oliva,
y al tonel, un milagro de la  naturaleza,
dije también adiós, porque no  comprendía
cómo se hicieron tantas cosas sobre la  tierra
sin el consentimiento de mis manos  inútiles.
(Pablo Neruda, em ‘Las Manos del Día’)
As Mãos  Negativas
Quando me viu  alguém
cortando talos, peneirando o  trigo?
Quem eu sou, se não disse  nada?
Qualquer filho de  João
tocou o  terreno
e deixou cair algo  
que entrou como a  chave
entra na  fechadura:
e a terra se abriu de par em  par.
Eu não, não tive  tempo
nem  ensinamento:
guardei as mãos  limpas
de cadáver  urbano,
me desprezou a graxa das  rodas,
o barro inseparável das  vestimentas claras
se foi a habitar sem mim as  províncias silvestres:
a agricultura nunca se ocupou de  meus livros
e sem ter o que fazer, perdido  nas bodegas,
concentrei-me em minhas pobres  preocupações
ainda que não tenha vivido senão  nas despedidas.
Adeus, disse ao azeite, sem  conhecer a oliva,
e ao tonel, um milagre da  natureza,
disse também adeus, porque não  compreendia
como se fizeram tantas coisas  sobre a terra
sem o consentimento de minhas  mãos inúteis.
(Tradução  de Luiz Filho de Oliveira)