segunda-feira, 19 de novembro de 2012

EU NEGRO UNS POEMAS


Eu inscrito à pele em fala ao poético de Hughes

– Eu sou negro mesmo,
como os meus antepassados todos,
passados na África, antes da Diáspora trágica!

Eu estudo no Brasil, numa escola pública;
aqui se-comemorou a Abolição da Escravatura,
mas só se-falava na tal da canetada no gabinete da princesa!

Eu escuto umas histórias,
cantadas por minha velha vó negra,
e ela fala dos sofrimentos de uma raça caçada!

Eu leio uns escritores negros;
com eles, eu aprendo a ser eu mesmo,
fragmento reunido a outros em continente novo!

Eu canto umas canções antigas,
respostas de bocas sabidas magistas;
a fazer o trabalho virar em cigarra a formiga!

Eu escrevo uns poemas negros,
em que o espelho sou eu e todos os outros mais velhos;
para falar aos mais jovens sobre o peso de estar ser negro!

Eu construo um futuro, agoraqui, passado
no alho, nos olhos, nos atos, nas positivas palavras ,
atitudes de afirmação de orgulho dos que são da cor da noite!

Eu jogo capoeira na América brasileira,
arte-manha das armas do meu corpo musculoso;
Ginga, que, Rainha, vinga luta contra a opressão do meu povo!

Eu danço, livre mente, mesmo;
marcando, com passos alegres, a tristeza do meu canto,
tradição traduzida para as raízes do blues, jazz, reggae, samba!

Eu ensino numa escola,
superior àquela que em ontens me-deram,
para ministrar o caminho que o mundo africane (creio)!


 Langston Hughes


Antelei Negra ou Lei Clara de Luiz Gama

Se o corte do grito for executado homicídio
por um escravo, na pessoa do opressor – claro! –,
perante o Direito de todos, estará ressalvado!

Todo humano a ser escravizado
(escuro!) tem o direito do punhal
para rasgar qualquer naco de liberdade!

Apois, todo crime discriminado
como sendo uma verdadeira defesa legítima,
legítimo, para os Juízos, será e não considerado!

Toda disposição em contrário,
como gera reação à geração da vida escrava,
encontrará contrários levantados com armas contra ataques!




Luiz Gama




Ex-Klu-Klux-Klu-Ídos
(Cantiga maldizente tirada da TV como notícia)

Isto quase ninguém viu, ouviu;
dito, entre vistas ou vidas, por Chico
(depois de tantos séculos da ruda Diáspora):
No Rio, Carlinhos e sua Filha com o Filho
foram considerados, sem ambiguidades,
pelos podres de rico dum condomínio chic
(com tanta grana quanto!), persona non grata!

E eles só vinham da Bahia, tipo férias,
e o Rio dessa gente burra e perversa
desaguou rios de preconceito-fera,
cópia mascarada dum país mais velho
nesse mau exemplo de quem pensa
ser tope de linha, mora?
Repito (perito!):

Foi no domínio de feras;
condomínio, férias, vindos da Bahia,
os três, sem Rio de Janeiro.

Foi no Rio de Janeiro,
vindos (férias!) os três da Bahia;
condomínio de feras – sem domínio?



Carlinhos Brown



Sem essa de correta política nestas leituras em negrito

Foi um negro de sorte,
ganhou uma nota preta: carvão!
Agora, verde a sexta-feira treze!
Então, deixou outro bilhete no quadro negro
da escola em que trabalhava, professoral:
“Estou podre de rico, mudei de sala.
Adeus, amigos, vou trabalhar noutra praia”.
E naquela noite negra, estreluarada, viva,
saiu levando brilhos somente dentro de si
legando ao Poeta seu primeiro Poema Negro.



(LUIZ FILHO DE OLIVEIRA. Das Bocadas Infernéticas. WEB: Deleitura, 2012.)




segunda-feira, 12 de novembro de 2012

DAS BOCADAS INFERNÉTICAS


Gregório de Matos

Envite aos vates assinalados a jogar o chiste abaixo assinado

Responda se for fácil:
poderia o Horácio
gozar em Gomorra?!
– Eitaporra!

E o divino Dante
abarcaria uma bacante
num inferninho, na zorra?!
– Eitaporra!

Será que o Gregório,
à porta do empório,
gozou a civil gorra?!
– Eitaporra!

E o nosso Gonzaga
toparia essa parada
de arrochar a corra?!
– Eitaporra!

Que diz o Bernardo,
que o Pajé não “tá armado”,
que não adora a pachorra?!
– Eitaporra!

Então, o Luiz Gama
a bodarrada chama
para prazer as cachorras?!
– Eitaporra!

Mole, o Bananére,
aquele que escreve
até que esporra?!
– Eitaporra!

Seria pastor o Oswald,
em nosso arrebalde,
de ovelha chamorra?!
– Eitaporra!

E o Millôr, noutro agora,
muito novo, embora, 
diria “véi, não morra!”?!
– Eitaporra!

E o que pensa disso
o filho Veríssimo,
que é só a modorra?!
– Eitaporra!

E o tal do Chacal,
um vate marginal,
escreve sem porra?!
– Eitaporra!

É este poema, Poeta,
que desse time se-completa
a prender palavras forras?!
– Eitaporra!




(LUIZ FILHO DE OLIVEIRA. Das Bocadas Infernéticas. WEB: Deleitura. 2012.)