domingo, 20 de maio de 2012

AMAR NA REDE



e-meu.a.mar...


e.te-frequento.rede.em.hiperfrequências:e.telas
e.tinto.meus.impulsos.sobre.teus.acessos:e.teclas
e.macro.mensagens.que.te-navegam:in.loco




@          @          @



inserto

desligada
a máquina no certo
não grava

a grav
           idade desta memória:
salvo em ti quero estar


(LUIZ FILHO DE OLIVEIRA. BardoAmar. Teresina: Edição do Autor, 2003.)


domingo, 13 de maio de 2012

O "i" MORTAL DE MiNHA LiRA MALDiZENTE


Imagem: arquivo Google

Um Terneto perneta à Academia Não-Sei-Dondense de Letras

Jovelhos esquemerméticos
Vestidos aliterantes ternos
(Cogito: illa veritas est)

Discursos retos
Laudabilíssimas lábias
Conchavos de salamaleques

Lançamento da obra
Subvencionice de Estados
Troca de favores & de cheques



(LUIZ FILHO DE OLIVEIRA. Das Bocadas Infernéticas. WEB: Deleitura, 2012.)



terça-feira, 8 de maio de 2012

Todo escritor deve possuir palavras pra dizer o que prazer



Imagem: arquivo Google


O GIGOLÔ DAS PALAVRAS

Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão !"). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.

Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa.  Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.

Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas - isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular.  Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.

Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.


(LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO. Mais comédias para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.)



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todo gigolô pode expor tudo sentido: a menos que não possa fazê-lo

esse poeta sempre tem palavras
para dizer o que pensa e
pesa

ele encontra-elas dentro deste
cômodo: cômoda
língua

porisso dão-se elas a seduzir
aquilo que se-diz
indizível

se ele não nas-grita: existem
outros motivos para
isso

assim repete-as-alegoriza
prostitutas do
humano

quem manda?! quem apanha?!
o Filho – Veríssimo – já o-
disse


(Onde o Campo é Porto Maior e Alegre.)



(LUIZ FILHO DE OLIVEIRA. Onde humano. Teresina: Nova Aliança, 2009.)