terça-feira, 10 de julho de 2012

POEMAS DE VERDADE, COMISSÃO!

Imagem: Latuff. Tortura, 2010.

O que há de ser roubado mas cantado 743 vezes numa estação no Rio (Centro) por um poeta do meio do caminho*

Maninhos... eu vi
o último militar a governar este país
encenando o inaugurar da ponte do meu bairro
do assento traseiro do oficial carro brindado... 
                                           [blin!
em velocidade suspeita de atitude... autoritária
em dia de educação moral & cívica hipocrisia
porque o Brasil era um-país-que-vai-pra-frente
e vai esquerda direita volver sem descanso
pois quem le-amava não le-deixou por militar

Por risco passo de pau pra cacete
na frente dessa gente amiga e tão contente
e confesso deixar os setenta-oitenta medos 
                                  [adolescentes
de lado                                    e olhar
bem na cara desses reconhecidos torturadores 
                                        [mascarados
a dizer a eles que venceram essa parada
dos civis civilizados osquais pensavam que nada
poderia roubar nosso conhecimento acumulado
bem dentro guardado nos bolsos da consciência nata

Não... negativo!
Pra exumar o cadáver desse delito milico de torturar
risco com o máximo volume do grito tal cogito
pensando logo existir quem teve o saco chutado
ou pousado de morcego nos galhos de um pau de arara
ou chocado à força com que elétrica a corrente 
                                  [movimentava
as cargas roubadas do conhecimento e não furtadas
de suas memórias profundas ou rasas
que vazaram pelo ralo depois do ácido

Como poderemos esquecer tamanha canalha
se eles quebraram a regra ao roubar o que se-pensava
não poder ser pelo poder de fato tomado desligado
de atitudes & palavras para o bem das pátrias?

Disso sabiam aquelas fardas mas falharam
visto ser o cérebro do ser – general –
a nossa Caixa de Pandora ao contrário
o bem a sair pela boca do corpo aberta
esperança a fugir pra bem mais descobertas
mal o saber compartilhado – campanheiros – vingue
e possa interessar a quem vá passá-lo à frente 
                                      [dos hinos
por gritos cartas paredes cantos livros panfletos & 
                                              [vídeos
(mesmo que sejam até revistados estando despidos)
vistouvidotocado haver neste poema indícios vingados
daqueles corpos de ideias em resistência
pra dizer que houve roubo mas não
completo: existe... poema!


(No Primavera, em Teresina, sobre a ponte de acesso à federal universidade.)


*Em memória de Gonçalves Dias, Bertold Brecht, Raul Seixas e de todos os torturados.



(LUIZ FILHO DE OLIVEIRA. Onde Humano. Teresina: Nova Aliança, 2009.) 




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Pelos que no telhado da noite armada poesia atiraram (dita dura)

A polícia pode
baixar o pau,
que a gente vai
levantar os cacetes.

Aí cinco, seis, dez,
centenas, trocentos,
contra todos eles,
taliônicos dentes:

no centro, o atentado;
no olho, o sequestro;
no saco, o choque;
no forno, os cadáveres!



(LUIZ FILHO DE OLIVEIRA. Das Bocadas Infernéticas. WEB: Deleitura, 2012.) 


5 comentários:

Lucas Holanda disse...

eles que venham, nós estaremos aqui. E quando eles chegarem é bom que tragam tanques grandes o suficiente para esmagarem os nossos anseios por liberdade.

Luiz Filho de Oliveira disse...

É isso aí, Lucas. Pau neles!

Só em Palavras disse...

Complexo seu texto, porém real.
Gosto muito daqui e me encanta que leia meu blog ou um de meus blogs uma
vez que tenho mais de 40.
Linda sexta pra nós!
Bjins

Só em Palavras disse...

Alias esqueci de dizer tem poema excitante
novo por la...

Luiz Filho de Oliveira disse...

Juntos, pela palavra. Lerei em breve.