quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A mim mesmo, poetas, poemas autossatíricos

Nesta postagem de hoje, eu estava pensando em escrever um texto que não seria aquela coisa, do tipo “meu querido diário...”, típico desses aborrecentes que interditam a internet com suas baboseiras. Não. Masporém escreverei algo muito pessoal: meio queixa, meio desabafo... inteiro de intenções lírico-maldizentes! Minha pena não é mais o lápis ou a esferográfica nem tanto de escrever a máquina. É esta tela eletrônica; a página, este blog. Ainda bem que esse espaço evoluiu, no sentido da mais alta responsabilidade; cresceu para ser uma mídia particular, que enceta um novo público-alvo: pessoas interessadas em frequentar o lugar-comum, a roda de fogo. Ou como diria Carlos, o expor-se-às-bancas. É isso. Outra vez, por saber fazê-lo, querer mostrá-lo e ter o acesso pago e o espaço de graça neste sítio eletrônico, também escrevo eu. Ô paginazona grande da porra!

Hem-hém. Foi por isso que o blog cresceu, ou melhor, a internet. Foi esse querer produzir porque há um espaço em que todos podem postar o que quiser; foi o criar esse espaço crítico, onde a luta é o vale-tudo (cuidado com o dedo no olho e o chute nas partes); foi o conquistar este poder – de quem pode usá-la, de graça ou paga, claro! –, que possibilitou esse trânsito de ideias. Como ficou mais fácil realizar o trabalho e mostrá-lo ao público. E que público! Capaz de transformar estultos em celebridades (esse conceito midiático de quem é muito assediado, acessado, visto em revistas, vídeos, telas, novelas...), mastambém de dar reconhecimento àqueles que, de fato, devem recebê-lo. E mais: como, hoje, o acesso a obras nunca Camões navegadas (deixe o doce estilo novo para depois) é muitíssimo mais redundante, é acessível; o rotundo globo está na rede, pescado. Meu Diabo, quem diria que eu poderia ter às mãos – às mãos, como cópia, claro –, um dia, um exemplar de Compilaçam de Todalas obras de Gil Vicente ou mesmo do livro de estreia do jovem poeta Lycurgo José Henrique de Paiva, Flores da Noite, lançados nos séculos XVI, o do português, e XIX, o do piauiense?

Não escrevo responder a isso. É, mastambém acho, Milton: nesse mar, há 99% de besteira e 1% de coisa que escapa. Escuro (chega de claridade!), senão isso não seria vida, e sim, ficção. Onde mesmo se anda esbarrando em gênios ou em genialidades? Dá licença, Aladim, aqui, não tem essa de conversa para rei dormir, não. Porisso, digo isto que escrevo: escrevo poesia há alguns pares de ano, desde o final da década de (19)80, e até a publicação em volume de meu primeiro livro, em 2003, ainda não havia sido levado em consideração por nenhum crítico literário, aqui, de Teresina, Piauí; e nacional, então, nem se-escreve! É, algo complexo, pois, para alguém escrever sobre um livro de poesia, das duas, uma: ou é trabalho acadêmico (isso para aqueles poetas que têm uma obra reconhecida pela crítica) ou é trabalho pago em salários, qualidade ou amizade. Do primeiro tipo de trabalho ainda estou longe; dos segundos, nem tanto. Destes, gostaria de escrever acerca dos que me-consideraram a qualidade; apesar de já ter sido entrevistado por jornalistas pagos, semiprofissionais, e de já ter-me beneficiado de amizade para tanto.

Mas a riqueza mesmo está em ter uma fortuna crítica aristotelicamente nascida por geração espontânea. Pensamento & vontade. Sobre meu primeiro livro, por exemplo, excetuando-se a apresentação dele, feita pelo poeta Elio Ferreira, li algumas poucas palavras, ou melhor, alguns parágrafos, do cronista José Maria de Vasconcelos, em uma sua coluna dominical no Jornal Meio-Norte, de Teresina, no ano de 2004. Aliás, em seu texto, José Maria fez somente uma análise de um poema de BardoAmar. Interessante, inclusive, a análise. Não cito informações mais precisas sobre isso, porque perdi o exemplar do jornal; poderia até pôr algum excerto desse texto nesta crônica.

Poissim, de lá até aqui, restaram os comentários orais dos mais próximos. Tudo como deve acontecer com quem tem uma distribuição nestes números: 1.000 exemplares em 2003 e mais 1.000, em 2004. E menos: genialidade. Contudo, trabalhei para avançar de fase; com tudo, de-com-força! E, para satisfação minha, fui incluído nos verbetes dos poetas do Portal de Poesia Ibero-americana, organizado pelo poeta Antonio Miranda no sítio eletrônico www.antoniomiranda.com.br/. E leiam que eu somente o-conheço por fotos, vídeos e, agora, emails. Nesse caso, foi o passo da obra (ela chegou à capital federal) que decidiu minha sorte e, certamente, algum talento. Recentemente, fui incluído também no Dicionário Biográfico Virtual de Escritores Piauienses, organizado por Adrião Neto no sítio www.usinadeletras.com.br/exibelotexto. Esta última inclusão, não nego, foi por procura minha. Mastambém se-deve ao fato de já estar com o segundo livro publicado em volume, Onde Humano (Teresina: Nova Aliança, 2009). Quantos poetas não passam do primeiro livro, por ausência de compromisso com a poesia ou por qualquer outra coisa, como ocorreu com o nosso Lycurgo!

É pouquíssimo, eu sei; explico: sou lento e uso lentes; misturo as letras com tudo. Entanto, com meu segundo livro, pude, de direito, ser considerado por dois críticos literários de fato: um, poeta; outro, cientista. Este, Francisco da Cunha e Silva Filho, doutorado pela UFRJ; aquele, Francisco Miguel de Moura, mestre pela escritura. Tudo bem, eu ofereci a obra a eles, masporém não nos-obriguei a escrever acerca de livro algum. Foi gentileza deles, gentilhomens. E, quanto a isso, não escrevo nada; quem quiser dá uma lida, os textos estão tanto no sítio www.portalentretextos.com.br/ quanto nos blogs dos dois críticos literários piauienses, em http://franciscomigueldemoura.blogspot.com/ e em http://asideiasnotempo.blogspot.com/*. Escrevo, entanto, com as teclas firmes de quem sabe aonde quer chegar: o ponto final, que inicia a frase seguinte. Tenho compromisso com a poesia, e isso não é prosa, não. Apois, eu sou homem de letras (com L de qualquer tamanho!), e, em ou com elas, eu escrevo poesia. Vejo na ação desses dois críticos uma simpatia pela qualidade de minha produção poética. E o mais importante: vejo, em cada um dos textos, um motivo para esta crônica.

Com o texto de Cunha e Silva Filho, lembro os conselhos que Tobias Barreto de Meneses deu a Lycurgo de Paiva, ou melhor, “as considerações oferecidas antes da publicidade de Flores da Noite”, extraídas do Jornal do Recife de 30 de abril de 1866, escritas por Tobias e revistas depois por ele mesmo. Leiam estes excertos:


É um livro de versos, cuja leitura fez-me conceber bem fundadas esperanças sobre o seu autor. (...) em quem a meditação e o estudo têm muito que aperfeiçoar. (...) Outros dir-lhe-iam – deixa isso que não é para ti – nós dir-lhe-emos – estuda, pensa e prossegue. (...) Familiarize-se com os grandes poetas do século, e tenha a ousadia de querer segui-los, não de dizer o que eles dizem, mas de ir aonde eles vão.


Lycurgo devia ter lido isso com menos entusiasmo; é o que diz Monsenhor Chaves, pela leitura da história do vate oeirense, sua biografia, e também pelo que se-pode ler da sua bibliografia – além de Flores da Noite, deixou somente duas peças teatrais, Quedas Fatais, encenada, e Voos e Quedas, inédita. Porisso, está enganado quem talvez pense que, apesar de grato pela análise feita pelos dois críticos, eu não saiba que devo estudar muito para atingir um nível reconhecidamente reconhecido pela crítica nacional; quiçá, universal (o planeta Terra, esse nosso universo!). Sei dessa responsabilidade de poeta, meu caríssimo Cunha. Até mesmo porque sou um poeta nascido da escola; minhas primeiras escrituras em formato poema surgiram no ambiente escolar, inclusive, minha primeira publicação foi em um jornal alternativo, A Voz da Uruçu, editado Por Manoel Barcelar, o Tubá, e amigos, na cidade de Uruçuí, Sul do Piauí, em 1985, um poema de que somente me-recordo vagamente. Foi na escola que li o tanto de poeta que existe no mundo inteiro. Sei da imensidão do trabalho.

Tudo bem, que talvez eu possa querer-ser e, com isso, pense ser o bom, mais do que o rei; porisso, tenho que maldizer desses costumes e trovar um poema satírico que fiz para mim mesmo após participar de um concurso de poesia promovido pela Fundação Cultural do Piauí (FUNDAC); acredito que em 2008. Eu estava certo de que classificaria Onde Humano entre os três primeiros, escrito e visto que já havia classificado BardoAmar em segundo, em 2000. E mais: eu acreditava mesmo que iria ganhar o concurso. Toma! Aguenta a lapingochada (sem conotação sexual, essa palavra soa muito bem a pancada que levei). Fiz o poema, que serviu para mim e serve para tantos fins.

Foi assim que me-lembrei dele, isturdia, por conta de um sentimento parecido que tive. Escrevo: eu fui participar de um sarau em que iria ser distribuída uma pequena antologia dos poetas que haviam sido homenageados ao longo do ano de 2010 nos seus eventos. Fui certo de que, ao menos, um poema meu estaria no libreto que seria distribuído lá; e havia combinado comigo mesmo que iria interpretá-lo com toda a honra; todavia, para surpresa minha, não havia nada de mim na antologia. E seo ninga veio falar comigo dessa incoerência sem graça. Fiquei sem, também. Fulerage! Calma. Senta, que lá vem o poema. Sente só, ou melhor, manca:



Depois do leiteiro morto foi o padeiro após o concurso de biscoitos finos



Aqueloutro poeta creu

em estar bem classificado,

assado, e – crau! – assim

comeu-ele um grupo

de crus jurados, osquais,

escrutando seu trabalho,

à mesa, sentados, para

o bardo-padeiro, receitaram:

“Mais atenção ao preparo;

crua, ainda, a massa;

procure mais amaciá-la ,

pois o povo só provará dela

quando descansada!”



Bem feito (não sei se escrito!). Assim deve ser o ser: não querer-ser; ser somente. Concursos são concurso. Quanto à minha poesia, ela vai bem, obrigada que é a sujeitar-se às minhas jornadas de trabalho: de tecla em tecla o eu-poeta enche as páginas. Nunca mais querer cantar de o-cara. Mas querer teclar de blog sempre. Esses espaços abrem outros e outra oportunidade para alongar a prosa, pois li no blog de Francisco Miguel de Moura, em seu texto acerca de minha poesia, o segundo motivo para esta crônica: quando ele afirma que eu devo aparecer em dicionários literários de poetas piauienses.

Então, lembrei um segundo poema satírico, em que o ele-antilírico tem a ver com um poeta aqui da terrinha; jovem, tem muito tempo de se-recuperar dos vacilos cometidos com a gramática da língua. Não que ele seja um bodim; não, ele é esperto. Masporém o mínimo que se-espera de um poeta e, por imposição, de todo escritor é que ele, ao menos conheça sua língua (o leque que ele estende), tenha proficiência ao usá-la, já que, em poesia, excetuando-se a importância do tema, é o manuseio dela(s) que faz o poeta ser apreciado pelos consumidores de biscoitos finos. Erros grosseiros dão para ser percebidos de dois tipos: ou há uma falha de digitação, como ocorreu em Onde Humano (leia que estou tirando o meu da reta), na pág. 60, no segundo verso, no qual faltou um M em “era”, ou é incompetência linguística mesmo, pois desconhecer o uso do subjuntivo de verbos como pôr e ter e seus derivados é um exemplo claro disso, não tem desculpas. Poisnão, destilo um tiquim de escárnio neste poema que também é a minha cara. A minha casa é esta carapuça. Mora?



Ô língua afiada da peste!



Aqueloutro poeta

quer ser verbete-vedete

em dicionários, enciclopédias, telas;



quer ser

lido em escolas,

revistas, ônibus, festas;



mas sequer rege

a lâmina do verbo

que versa... e fere-se!




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* O texto de Francisco Miguel de Moura e a primeira parte do de Cunha e Silva Filho são as duas postagens anteriores; as partes restantes do texto de Cunha Filho postarei posteriormente neste blog.


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