quinta-feira, 22 de julho de 2010

O primeiro livro a gente nunca escreve, mas re...


BardoAmar

velhos personagens
vinha esse verbo velho
tinto em cenas líquidas

brinde pois conosco
onde imóveis agimos
corpemente ação excetiva

sãos sentidos que nos-marem
em música vinho poemas
caminho a tormentas

por risco também
nestas linhas fie tais sentidos:
aqui dentro eus nós

velozesamarras
velas a mar a velarem-se
no que o verso encerra

(BardoAmar. Teresina: Edição do Autor, 2003-2010.)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Poema-réquiem para mais um estudante achado morto por bala perdida

O poema abaixo não aconteceu por ocasião da morte desse jovem estudante morto na sala de aula por uma bala perdida. Não fiz poesia de acontecimento, a despeito de poder fazê-la. Sem problemas. Não tenho nenhum deles com Carlos, só alguma poesia.

Por isso, este escrito: este poema já era vivo muito antes desse caso horrivel, já estava escrito nos cadernos de minhas aulas de poesia (recebidas por ocasião de minha vinda a este sítio humano), já era grito & espanto há tanto tempo. Assim se-fez: um céu turvo de sangue de quanto mais vítima dessa catástrofe, que se-chame de “guerrilha urbana”. E é nesse Rio de Janeiro que governos brasileiros desejam fazer uma copa e outra olimpíada: piada infame. Me-lembra Tosh, incendiário: Politrick! Escrito também: Polititica!

Por tanto horror, este poema já estava escrito no quadro negro da educação brasileira, não com o lápis que o menino tinha às mãos, mas com as teclas que denunciam a falta de educação da polititica brasileira! Privado o público mais uma vez. Portanto, este poema:


Escolas públicas com o público privado da entrada

As carteiras são vagas para pobrezinhos,
mas estão vagas após uma bala ser achada
na sala, dentro do cérebro dum menino;

e, hoje, nela, há vermelho um quadro ainda,
escrito com palavras de política partida:
os professores estão em greve, na praça antiga.

E montam guarda (à noite) nas tavernas,
com paus, pedras, coquetéis e poemas;
desenrolando o Brasil a mesma gente lesa!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Homenagem a um homem que age em nome da liberdade de expressar algo (e daí, se for a descrença?)




Das minhas leituras de jornais e de revistas, se for pra lembrar o nome de algum artista de palavra fixa na página e de língua solta no texto, os que me-vêm à mente são os de Rubem Braga e de Millôr Fernandes. Veio primeiro o primeiro, via Caderno de Domingo no jornal O Dia, de Teresina, pela década de 1980; o segundo, segundo me-lembro, vinha revista Veja, semanalmente (e vejam só: hoje, ela está sacaneando o Milton!). Desses dois, eu tenho lembranças que me-teclam a tela de caracteres bem humanos: lirismo e arbítrio livres. Como devo à minha irmã, Rosário, por ter feito essas assinaturas sagradas: escrituras de toda semana, era tiro e festa (não posso dizer que não caí, mas, é claro, tal queda foi pra cima!).

Pois bem, do velho Braga, deixo para falar depois, como já o-fiz em outras páginas, essas postagens na pastagem árida da rede de computadores.  Deixa Cachoeiro desaguar esse outro Braga, que cantou em prosa de bom brasileiro o que versava seu lirismo, crônico de cotidiano. Ah, meu velho, como essas tuas linhas coseram minhalma! E eu nem precisava estar vestido em traje de gala para receber Rubem à minha mesa, à sala de jantar da Literatura; sua fala cheirava à comida, típico dos grandes literatos. Como eu esperava por aquele Caderno, com o seu Tempo de Poesia, o espaço, por mim, mais festejado. Que fome, aquela! Porisso que eu servi a Rubem um poema em meu livro Onde Humano, lembrando nossas agendas e também Raul Bopp, esse cabra Norato. É, isso é papo pra mais de quilômetro; dá inclusive pra conversar desconversando o assunto que me-trouxe aqui.

Masporém chega de conversa chata na hora da comida, menino; venho a este texto pra saudar Millôr Fernandes, o Guru do Méier; sobretudo & sobretodos, por conta de uma poesia tão irreverente quanto criativa; palavras desconcertantes à “poética funcionário público”. Bofeta, Millôr, esses que te-acreditam incompreensível profeta do anarquismo literal. Eles não sabem o quanto Millôr tem de método, é pra mais de metro! O não-livro de autores anteriores é pouca coisa frente ao sim-livro milloriano-luz; como cê neologisma ludando a palavra, meu antecamarada. Comigo também aconteceu de gostar de textos seus, pois, desde meu início em poesia, a irreverência na escritura era o que mais valia (sim, porque a poesia é capital!) para mim. Escuro que a minha poesia não faz frente à sua, nesse quesito, mas meu caminho ainda rabisco arabescamente. Não o-imito, minto-o muito.

Pena que não estou usando o meu “computador primitivo”, o velho amigo lápis, com seu processador de texto e seu deletador originais; hoje, digito este texto com esta máquina ainda um tanto estranha pra um quarentão como eu. Digo isso, porque, antes de ver aquela charge maravilhosa (que estou usando como ilustração desta postagem), eu também pensava assim: meu lápis é o meu primeiro computador, pois com ele fazia o mesmo que esses processadores de antes faziam. E quão alegre foi minha reação ao ver o seu desenho. Coisas de Guru mesmo. Porisso, é que não posso deixar em branco esta página, em que cê pede um poema a quem quer que seja poeta de ocasião, de acontecimentos. Sou-o; assim, suo-o. Paratanto, pego carona no teu texto e faço o que, Mestre, nos-manda no poema de alguns anos e tantos. Lembra? Então, vou puxar seu cérebro (claro que não puxaria outras coisas!) por meio e início (nunca findo) de um meu poema com objetivo de mais o-imortalizar, porque eu fiz as contas: cê é mais vivo do que muita gente junta.

Poeminha sem objetivo

Me elogia, vai!
Escreve um troço, aí!
Não dói, não; faz de conta
Que eu morri.

            Millôr Fernandes

Poeseu com Objetiva (A distância é de mil Tons!)

 – Millôr é o mió; posta-o!
É só o mii-da-pipoca!
Ê, fulerage da peste!
É o que vejo nessa joça.
            Luiz Filho de Oliveira